Troca de governo, atos da Geração Z: entenda a crise no Peru

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Deutsche Wellei Deutsche Welle https://revistaplaneta.com.br/autor/deutsche-welle

17/10/2025 - 15:31

Enquanto protestos liderados por jovens contra corrupção e violência tomam as ruas do país, forças policiais reagem com brutalidade. Presidente interino recém-empossado anuncia declaração de estado de emergência.A crise política no Peru não tem dado sinais de que irá arrefecer, mesmo após o impeachment relâmpago da ex-presidente Dina Boluarte, em 10 de outubro. Protestos massivos nas principais cidades do país contra o governo e o Congresso, liderados por jovens da Geração Z– jovens entre 18 e 30 anos que se organizam por plataformas digitais –, acontecem há um mês, sob violenta repressão das forças policiais.

O pior momento dos confontos aconteceu na noite de quarta-feira, quando um policial à paisana atirou contra manifestantes no centro de Lima, matando o rapper Eduardo Ruiz Sáenz, de 32 anos. No mesmo dia, mais de 100 pessoas ficaram feridas, incluindo policiais.

Após o agravamento das tensões, o recém-empossado presidente José Jerí declarou nesta quinta-feira (17/10) que irá decretar estado de emergência na capital para enfrentar a criminalidade. Com a medida, que pode incluir toque de recolher, o governo fica autorizado a enviar militares às ruas para patrulhar e restringir direitos, como a liberdade de reunião e de trânsito.

“Vamos anunciar a decisão do governo de decretar estado de emergência, pelo menos na região metropolitana de Lima, mas, ao contrário de outras ocasiões, esta não pode ser simplesmente uma declaração etérea, subjetiva e que não serve ao cidadão comum. Deve ser acompanhada de um pacote de medidas concretas e eficazes”, disse Álvarez.

Paralisações

Além das mobilizações contra o crime organizado e a classe política peruana, várias categorias têm anunciado paralisações, como alguns setores do transporte público.

Para fazer frente à crise, o presidente espera aprovar medidas de urgência sem passar pela aprovação dos parlamentares.

“Queremos solicitar poderes legislativos para legislar principalmente em questões de segurança cidadã (…) que é o principal problema”, disse o presidente a jornalistas.

“Entre elas está a questão das prisões”, de onde as gangues extorquem, comentou Jerí, sem detalhar o tipo de intervenção que espera adotar.

Instabilidade política

O cenário de crise política não é recente no Peru. O país passou por sete governos na última década, incluindo o atual.

A antecessora, Dina Boluarte, foi a primeira mulher a tornar-se presidente do país, em 2022, após um autogolpe de Estado fracassado de seu colega de chapa, o presidente Pedro Castillo. Além de destituído do poder, ele também foi preso.

A ex-presidente interina atingiu os piores índices de popularidade de um líder peruano – sua aprovação caiu de cerca de 21% no início do mandato para apenas 2% a 4%. A crescente frustração com seu desempenho em conter o crime no país, além de escândalos de corrupção, abriu caminho para que o Congresso decidisse por sua saída do cargo, alegando “incapacidade moral permanente”.

Entre as acusações mais graves apresentadas contra a ex-mandatária está a morte de 49 pessoas durante a repressão dos protestos que eclodiram no país entre dezembro de 2022 e março de 2023, depois que ela substituiu Castillo na presidência do país.

Ela é investigada também por supostamente receber presentes luxuosos como relógios Rolex e joias não declaradas, não informar que estaria impedida fisicamente de exercer o cargo quando se submeteu a uma série de cirurgias estéticas e falsificar a assinatura em vários decretos durante o tempo em que esteve convalescente.

O presidente do parlamento peruano, José Jerí, de 38 anos, assumiu interinamente a Presidência, apesar de ter sido investigado por estupro. A denúncia, aberta em janeiro de 2025, foi arquivada em agosto pelo Ministério Público por falta de provas. Ele nega as acusações.

Mas o descontentamento popular que toma as ruas do Peru ultrapassa a conjuntura atual, e os protestos apontam para a classe política com gritos de “saiam todos”.

“Não vou renunciar, vou continuar com a responsabilidade”, respondeu Jerí à imprensa sobre sua permanência no cargo.

O chefe de Estado lamentou a morte do manifestante em Lima, mas insistiu que o protesto foi tomado por um pequeno grupo que quer, segundo ele, impor “o caos”.

“Em um Estado de direito, as garantias de todos os manifestantes e das forças da ordem são protegidas, mas esse pequeno grupo buscava gerar o caos”, disse.

Início dos protestos

No último mês, quase 200 pessoas ficaram feridas durante os protestos em Lima, incluindo policiais, manifestantes e jornalistas.

O primeiro protesto em Lima ocorreu em 20 de setembro, quando algumas centenas de pessoas participaram de uma manifestação convocado por jovens da Geração Z. Segundo a imprensa, cerca de 500 manifestantes se reuniram no centro da capital peruana e seguiram em direção às sedes do Executivo e do Legislativo. Houve confronto com a polícia.

Os protestos ocorrem em um momento de insatisfação com a classe política. De acordo com uma pesquisa do instituto Datum, publicada em setembro pelo jornal El Comercio, 79% dos peruanos sentiem vergonha do governo, e 85% dizem o mesmo do Congresso.

Violência no centro da crise

O Peru vive um aumento dramático de suas estatísticas de violência. Grupos criminosos envolvidos em assassinatos por encomenda e tráfico de drogas passaram a praticar extorsão, explorando o vácuo de poder político no país.

Em 2024, o número de homicídios aumentou cerca de 34% em comparação a 2023, com mais de 2 mil casos. Apenas da região metropolitana de Lima, foram registrados 755 homicídios no ano passado.

Os casos de extorsão dispararam de algumas centenas em todo o ano de 2017 para mais de 2 mil por mês em 2025, de acordo com dados da polícia. Os alvos vão desde desde empresas de transporte até barbeiros, escolas particulares e lojas de conveniência. Nos últimos dois anos, dezenas de motoristas de ônibus foram mortos no trabalho, vítimas dessas quadrilhas.

O tráfico de pessoas também mostra índices alarmantes: entre dezembro de 2022 e julho de 2025, período de Boluarte no poder, foram identificadas aproximadamente 1.465 vítimas, aponta o Observatório Nacional de Segurança Cidadã.

sf/md (AFP, EFE, ots)

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