Mistério cerca sistema antidrone com brasão ucraniano encontrado no RJ

Brasília e Kharkiv – Uma apreensão realizada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro há quase três meses, quando um interceptador de drones com o brasão de armas da Ucrânia foi encontrado na zona norte do estado, é cercada de mistério. Equipamentos do tipo costumam ser utilizados para fins militares, como em guerras, mas também de forma mais profissional, como em aeroportos.

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O que aconteceu?

• A Polícia Militar do Rio de Janeiro apreendeu um sistema antidrone na comunidade do Acari, que costuma ser utilizado em guerras. 
• De acordo com a PMERJ, o equipamento vinha sendo utilizado para bloquear o sinal em toda a comunidade.
• Na caixa do interceptador foi encontrado um símbolo ucraniano conhecido como Tryzub: o brasão oficial de armas da Ucrânia.

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Era 17 de julho quando policiais do 41º Batalhão da PMERJ entraram na comunidade do Acari, na zona norte do Rio de Janeiro com uma missão. Ao lado de agentes da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), eles tinham como objetivo detectar e apreender dispositivos que vinham sendo utilizados no bloqueio ilegal de sinal.

Com a ajuda do setor de inteligência, agentes da PMERJ encontraram o equipamento antidrone, de uso militar, escondido em uma residência da comunidade. De acordo com investigações preliminares, o dispositivo vinha sendo utilizado para impedir o uso de drones em toda comunidade do Acari, com um alcance que atingia um raio de 7 km.

“O equipamento foi localizado em funcionamento dentro do sótão de uma residência com uma estrutura dotada de antena e, possui tecnologia avançada, com capacidade para interferir, neutralizar e até derrubar aeronaves remotamente pilotadas (drones)”, disse a PMERJ em comunicado divulgado à época.

De acordo com a Anatel, o uso de tais dispositivos no Brasil é proibido, e somente é liberado para instituições da administração pública. Entre elas, as Forças Armadas, Presidência da República e outros órgãos de Segurança Pública.

A primeira apreensão do tipo no estado do Rio de Janeiro liga, ainda que de forma indireta, o crime organizado no Brasil à guerra na Ucrânia, apesar da distância que separa os dois países. Isso porque o brasão de Tryzub, o símbolo oficial de armas do país liderado por Volodymyr Zelensky, estava estampado na caixa do equipamento.

Tridente ucraniano

A história do Tryzub, também conhecido como “tridente ucraniano”, remonta ao século X. O brasão, porém, foi adotado oficialmente como símbolo nacional da Ucrânia em 1992, após a independência do país.

O tridente amarelo, sobre um fundo azul — as mesmas cores da bandeira da Ucrânia — é considerado o emblema nacional do país. O Tryzub é encontrado em moedas, passaportes ucranianos e vestimentas militares.

Segundo a tradição, o Tryzub pode ter diferentes significados, como soberania, liberdade, vitória, proteção, poder e identidade histórica. Ele pode ser visto nos uniformes militares de Volodymyr Zelensky, que substituíram os ternos em eventos oficiais após a invasão russa em 2022.

Improvisação

Apesar da complexidade do aparelho, especialistas consultados pelo Metrópoles e Gwara Media, parceira na apuração, sugerem que o equipamento é um sistema improvisado, produzido de maneira artesanal.

“Trata-se de um tipo de sistema improvisado de interferência de ondas eletrônicas, feito em casa, com um conjunto de peças de reposição chinesas montadas em uma placa de metal com bons dissipadores de calor para resfriamento. Mas, na verdade, são apenas os bloqueadores chineses mais comuns”, explica Yegor, especialista ucraniano em drones consultado pela reportagem.

Ainda assim, o especialista confirma que o símbolo encontrado no equipamento é realmente o Tryzub. Ele, no entanto, prega cautela, tendo em vista que o mesmo só aparece no gabinete do interceptador.

“O tridente, é claro, sugere que pode pertencer a nós, mas tanto os russos quanto nós produzimos sistemas semelhantes, então é difícil dizer. Com apenas duas fotos, é difícil ter certeza”, disse ele, ao analisar as imagens fornecidas pela PMERJ.

Mesmo com as evidências que inteligam o equipamento ao conflito no Leste Europeu, analistas também levantam outras hipóteses para a presença da peça com o brasão ucraniano no Brasil. A peça pode ter chegado ao RJ por meio de negociações realizadas no mercado negro e, até mesmo, através de brasileiros que foram combater na guerra da Ucrânia. 

Autoridades mantém silêncio

Após a apreensão, a Polícia Militar do Rio de Janeiro afirmou que o caso foi encaminhado para a Polícia Federal (PF).

O Metrópoles procurou a PF e questionou sobre a origem do equipamento, a possível ligação com a guerra na Ucrânia e o andamento do caso. Em nota, a corporação afirmou que não comenta investigações que ainda estão em andamento.

Esta reportagem foi produzida em colaboração com o Gwara Media, meio de comunicação ucraniano independente com sede em Kharkiv.