Quase 26 anos após um episódio que marcou para sempre a trajetória do Planet Hemp, os integrantes da banda retornam a Brasília neste sábado (18/10) para um show histórico da turnê de despedida A Última Ponta. A capital foi palco, em 1997, de um dos momentos mais emblemáticos da carreira do grupo: logo após um show no Minas Brasília Tênis Clube, os músicos foram presos acusados de fazer apologia ao uso de drogas.
A prisão virou símbolo da postura combativa e irreverente que sempre definiu a banda. Agora, quase três décadas depois, o Planet se despede da cena. Em entrevista ao Metrópoles, o vocalista Marcelo D2 contou que o encerramento das atividades é uma decisão madura e consciente.
“Foi uma escolha consciente depois de 30 anos de carreira. Tem uma coisa que, na minha cabeça, o Planet Hemp precisa, é ter esse nível de confrontabilidade lá no alto, sabe? E a gente está ficando velho. Isso é para quando você tem 20 e poucos anos”, afirmou.
A banda, conhecida desde os anos 1990 por defender a legalização da maconha e combater o conservadorismo, foi uma das vozes mais barulhentas da música brasileira contra o autoritarismo. D2 explica que manter essa postura combativa de forma intensa por tanto tempo cobrou um preço alto.
“O último disco do Planet foi muito dolorido para mim. Em 2023, eu ainda estava escrevendo sobre fascismo tropical? Escrever sobre isso me custou muito caro, eu fiquei doente”, explicou.
O álbum citado é Jardineiros, lançado em 2023 e vencedor de dois prêmios no Grammy Latino. O projeto nasceu no calor dos conflitos políticos do país, num período em que o embate com a extrema-direita atingiu níveis intensos.
“O Jair Bolsonaro perguntou: ‘Quem é esse tal de Marcelo D2?’ e, na verdade, ele tava no Twitter mandando todo mundo me atacar. E isso não é o tipo de coisa que eu quero para minha vida”, contou o cantor, ao lembrar o tenso episódio envolvendo política.
Para D2, o Planet Hemp cumpriu um papel histórico fundamental na discussão sobre políticas de drogas no Brasil, mas isso não foi o suficiente. “Eu acho que tem um avanço no mundo, muito significativo, mas no Brasil não, porque o Brasil tem essa vanguarda do atraso”, avaliou.
Ele ainda lembrou uma conversa marcante com José Mujica, ex-presidente do Uruguai, que morreu em maio deste ano, sobre a legalização da maconha. “Ele me falou uma coisa muito interessante: as leis só mudam quando o povo muda. E acho que isso tá acontecendo. A ilegalidade da maconha é uma burrice”.
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Planet Hemp
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Gerdan Wesley/Porão do Rock/Divulgação
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BNegão e Marcelo D2, do Planet Hemp
Fernando Schlaepfer
A Última Ponta
A turnê de despedida foi planejada para ser uma celebração à altura dos 30 anos de estrada do Planet Hemp. O repertório une clássicos, faixas menos conhecidas e músicas recentes. “A gente está contando a história do Planet no palco. O fundo do palco é um livro e tem um narrador, e ele vai passando a história e a gente vai tocando as músicas. Conseguimos achar o equilíbrio entre a tensão e relaxamento para não ficar só porradaria”, explicou D2.
A seleção não foi fácil. Condensar três décadas em duas horas e meia de show exigiu escolhas difíceis. “Foi difícil, deixamos algumas músicas de fora, mas o show tá melhorando a cada cidade que a gente passa. É muito legal”.
Revisitar o passado também tem sido um processo íntimo para D2. “É muito especial tocar músicas de 93, 94 e pensar: ‘Quem é esse moleque que escreveu essas letras?’. Hoje sou um adulto que não sabe de nada. Antes tinha certeza que sabia tudo, mas agora estou aqui para aprender”, refletiu o artista.
Brasília, onde parte dessa história começou, tem um peso especial nesse roteiro de despedida. “A cidade não só influenciou a gente, como teve muita gente que trabalhou conosco nos anos 1980. O rock de Brasília foi muito importante para a nossa formação”, afirmou D2.
Serviço
Planet Hemp – A Últitma Ponta
No sábado (18/10), às 23h, na Arena BRB Mané Garrincha. A classificação indicativa é 18 anos. Os ingresso custam a partir de R$ 80 reais no site ou app Eventim.