Alexandre Inacioi Alexandre Inacio https://dinheirorural.com.br/autor/alexandre-inacio
18/10/2025 - 12:00
A americana Cargill está refinando suas estratégias para o mercado de chocolate. O produto é a grande aposta de uma das maiores empresas agrícolas do mundo para crescer sua presença no food service brasileiro, atendendo um pedido que virou lugar comum entre os clientes: baixar o preço do chocolate.
E o pleito dos clientes se justifica. Historicamente, o preço do cacau no mercado internacional oscilava entre US$ 1,5 mil e US$ 2 mil por tonelada. Em momentos de alta, os picos ficavam próximos a US$ 3.000. Essa realidade mudou no ano passado. Pouco antes da Páscoa de 2024, a tonelada do cacau passou a valer cerca de US$ 12 mil.
O mercado viu a oferta cair drasticamente depois que os países africanos – maiores produtores do mundo – tiveram quebras acentuadas de safra por problemas climáticos e sanitários.
Ainda que os preços tenham caído, o atual patamar permanece elevado. Hoje, a tonelada do cacau é negociada na casa dos US$ 6 mil, mais do que o dobro da média histórica.
“Existe um ponto a ser resolvido na África. A região que já foi responsável por mais ou menos 70% do cacau do mundo está perdendo produtividade. A África tem árvores que estão mais velhas, problemas com doenças, problemas com clima. Tudo isso vai fazer com que a produtividade caia ainda mais”, disse à IstoÉ Dinheiro Cristina Faganello, vice-presidente sênior e diretora-geral para Food da Cargill na América do Sul.
Sem uma solução de curto prazo para elevar a oferta e solucionar a dor dos clientes e pensando na própria perenidade do seu negócio, a Cargill quer fazer do Brasil um grande player do mercado de cacau novamente. O país, que chegou a produzir mais de 400 mil toneladas de cacau por ano, tem uma produção relativamente estável ao longo das últimas duas décadas, colhendo pouco mais de 200 mil toneladas e incapaz de atender a necessidade doméstica.
+ Leia em IstoÉ Dinheiro: Um negócio de titãs
+ Gusttavo Lima vende sua plataforma online de ingressos para a Ticketmaster
Cacau irrigado da Cargill
Segundo Cristina, a empresa já olhava para o potencial de produção nacional desde 2021. Naquele ano, a empresa se junto com a Schmidt Agrícola e anunciaram a criação de uma Sociedade em Conta de Participação, onde cada lado decidiu aportar US$ 5 milhões ao longo de cinco anos para implementar uma produção de cacau irrigado em Riachão das Neves, no oeste da Bahia, mirando uma produtividade de 4,5 mil quilos por hectare.
Em paralelo, a Cargill acelerou o trabalho de assistência técnica com pequenos produtores, que ainda cultivam o cacau de forma tradicional em meio à floresta, no sul da Bahia, em um sistema conhecido como cabruca. A produtividade média desses pequenos agricultores está saindo de 200 a 300 quilos por hectare para 800 quilos.
+ BNDES vai liberar R$ 12 bi para produtores rurais com perdas de safra

Hoje a Cargill tem uma fábrica de processamento de cacau em Ilhéus, na Bahia, de onde saem os insumos para a fabricação do chocolate e outros produtos. Também mantém uma unidade em Porto Ferreira, no interior de São Paulo, onde fabrica efetivamente o chocolate que chega até os clientes.
Apesar de já atuar há anos no mercado de chocolate, a empresa ainda descarta a ideia de ter uma marca própria para o varejo. Diferente do que acontece com a cadeia de óleos e tomate, onde a Cargill atende tanto o food service quanto o varejo, com marcas como Liza e Pomarola, o chocolate, por enquanto está fora dos planos para o B2C.
“A gente não tem nenhuma ambição de entrar com chocolate no varejo, até para não competir com os nossos clientes”, disse Cristina. A entrada no varejo, afinal, seria mais um concorrente para disputar as concorridas amêndoas de cacau, que já estão com os preços nas alturas.