Norwood é produto da Xicoia, empresa que se autodenomina o primeiro estúdio de talentos com inteligência artificial do mundo.
Desde que a produtora e comediante holandesa Eline Van der Velden lançou a futura carreira da personagem digital, Tilly Norwood tem sido o assunto mais comentado em Hollywood.
Mas não de forma positiva. A novidade provocou críticas de associações, atores e cineastas, que afirmam que a inteligência artificial não deveria ocupar espaço de destaque na profissão.
Em comunicado divulgado nesta terça-feira (30), o sindicato norte-americano de artistas Screen Actors Guild (SAG-AFTRA) afirmou que “a criatividade é, e deve permanecer, centrada no ser humano”.
Sindicato de atores protesta contra atriz criada por inteligência artificial em Hollywood — Foto: Evan Agostini/Invision/AP
“Para deixar claro, 'Tilly Norwood' não é uma atriz, é uma personagem gerada por um programa de computador treinado com base no trabalho de inúmeros artistas profissionais — sem permissão ou remuneração”, disse a associação.
Van der Velden, fundadora do estúdio de IA Particle6, apresentou Tilly Norwood no fim de semana passado, durante o Zurich Summit, evento paralelo ao Festival de Cinema de Zurique.
Ela disse na ocasião que agências de talentos estavam de olho em Norwood e que ela esperava anunciar uma contratação em breve.
Muitos em Hollywood criticam a novidade.
“Qualquer agência de talentos envolvida nisso deveria ser boicotada por todas as corporações”, publicou Natasha Lyonne no Instagram.
A estrela de Boneca Russa está dirigindo um longa chamado Uncanny Valley, que promete usar inteligência artificial “ética” junto com técnicas tradicionais de produção.
"Profundamente equivocado e totalmente perturbador", acrescentou. "Não é o caminho. Não é a vibe. Não é o uso."
A inteligência artificial já é usada como ferramenta na produção cinematográfica, mas sua implementação é alvo de intensos debates.
O tema foi central nas negociações da greve prolongada do sindicato que representa os membros da mídia dos EUA encerrada no fim de 2023 com salvaguardas para proteger o uso de imagens e atuações de atores por IA.
Uma greve de um ano de atores de videogames se baseou nas proteções da IA. Em julho, atores de videogame aprovaram um novo contrato que exige que os empregadores obtenham permissão por escrito para criar uma réplica digital.
Ainda assim, o tema segue cercado de polêmicas.
O filme vencedor do Oscar de 2024, "O Brutalista", utilizou inteligência artificial para os diálogos em húngaro falados pelos personagens de Adrien Brody e Felicity Jones. A revelação gerou debate na indústria.
Van der Velden, responsável por lançar a atriz digital, rebateu as críticas no Instagram.
"Como muitas formas de arte antes dela, ela desperta conversas, e isso por si só demonstra o poder da criatividade."
Van der Velden não respondeu aos pedidos de entrevista na terça-feira. Em sua publicação, ela argumentou que personagens de IA deveriam ser julgados como um gênero próprio.
“Criar Tilly foi, para mim, um ato de imaginação e habilidade, assim como desenhar um personagem, escrever um papel ou moldar uma performance”, acrescentou.
“Dar vida a um personagem como esse exige tempo, habilidade e iteração.”
A declaração também foi compartilhada na conta de Tilly Norwood no Instagram.
As postagens incluem fotos da atriz virtual tomando café, comprando roupas e se preparando para projetos. Até terça-feira, a conta acumulava mais de 33 mil seguidores.
“Me diverti muito filmando alguns testes de tela recentemente”, diz uma das publicações. “Cada dia parece um passo mais perto da tela grande.”
Tocanna: quem é a cantora feita por IA do hit proibidão 'São Paulo'