A investigação da Stasi sobre o brasileiro que pulou o Muro de Berlim

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Stasi ficou preocupada com a falha de segurança e fotografou rastros deixados por Miguel Carmo em travessia para o outro lado.A brasileira Sônia Carmo tinha 17 anos quando foi surpreendida, no meio da rua, em Berlim Oriental, por dois oficiais da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. Foi levada a uma sala e foi submetida a um longo interrogatório.

As autoridades queriam saber até que ponto ela tinha conhecimento sobre o crime que o irmão, Miguel Carmo, tinha cometido três dias antes, ao pular o Muro de Berlim para o lado socialista. Sônia foi solta logo depois da oitiva, mas Miguel não.

A Stasi estava preocupada com o que havia ocorrido no dia 5 de novembro de 1971, quando o brasileiro atravessou a fronteira entre as duas Alemanha sem ser notado. O Ministério da Segurança da Alemanha Oriental fez uma averiguação no local onde Miguel teria passado, entre os bairros de Kreuzberg e Mitte, e incluiu fotografias dos vestígios e mapas com o trajeto feito por ele.

Esse é o tema do terceiro episódio da série de podcasts O Pulo de Miguel, da DW, que conta a história exclusiva do brasileiro que saltou sobre o Muro de Berlim.

O pulo “ao contrário”

Diferentemente dos casos mais conhecidos, em que a travessia acontecia do lado Oriental, socialista, para o lado Ocidental, capitalista, Miguel fez o caminho contrário. Por ser considerado “subversivo” pelo governo da Alemanha Oriental, o brasileiro estava ilhado em Berlim Ocidental. Ele tinha sido expulso do lado socialista por ter ideias radicais demais, mesmo que também fosse um comunista.

Mandado para o outro lado, impedido de ver os pais, a irmã, os amigos e a namorada, Miguel fez o mais difícil para matar a saudade. Toda a investigação em torno do pulo do brasileiro e dos embates dele com a Stasi estão num dossiê de 600 páginas compilado pela polícia secreta da Alemanha Oriental, onde foram inclusive anexadas fotos com os rastros deixados por Miguel Carmo durante a travessia da Cortina de Ferro.

Conheça a série

O documento, obtido com exclusividade pelo repórter Fábio Corrêa, é o ponto de partida para a nova série de podcasts da DW, O Pulo de Miguel.

São seis episódios, um por semana. A série vai estar dentro do DW Revista, o podcast semanal da DW, disponível no site e nas principais plataformas de áudio. Os episódios são publicados todas as sextas-feiras e seguem até o dia 7 de novembro.

Mas a história não para – nem começa – aí. O jornalista também empreendeu uma viagem entre Brasil e Alemanha para reencontrar pessoas que conheceram Miguel Carmo e que ajudam a tentar entender não só o “feito” do brasileiro, mas também como era o mundo durante Guerra Fria, esse período histórico cujas marcas continuam vivas até hoje.

Para além de Stasi e Alemanha, ditadura militar e Brasil, O Pulo de Miguel também faz um retrato do mundo que entrou em ebulição nos anos 1960 e 1970. Rolling Stones, Jorge Amado, Bahia e Minas Gerais são o pano de fundo da série de reportagens em áudio e que, no fundo, é a história de uma família brasileira dividida pela Guerra Fria.

O trabalho investigativo ainda inclui entrevistas, relatos biográficos, documentos históricos e até um livro independente, publicado pela alemã Johanna Vogel, em 2011, na Alemanha, sobre Miguel, que ela adotou oficialmente após o brasileiro ter cometido a travessia clandestina.

A série de podcasts contou com o apoio financeiro da bolsa Holbrooke Grant, por meio da fundação alemã IJP (Internationale Journalisten-Programme), que financia projetos de pesquisa com perspectiva transnacional.

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